Nos últimos anos, virou tendência falar sobre consumo consciente. Na mídia, nas redes sociais, nas propagandas de marcas e até mesmo nas etiquetas dos produtos, ser “sustentável” virou moda. Comprar menos, evitar desperdícios, dar preferência a produtos ecológicos e reutilizar são considerados pilares dessa prática, que busca respeitar o planeta e o meio ambiente. Mas será que é fácil assim? Um estudo realizado pelo Instituto Akatu, organização não governamental que atua na mobilização da sociedade pelo consumo consciente, apontou, em 2022, que apenas 17% da população brasileira tem hábitos realmente conscientes. Os dados mostram que, apesar do discurso, na prática a mudança ainda é difícil. E aí surge o grande questionamento: será que é possível consumir de forma consciente em um sistema capitalista que tem como base o consumismo?

A essência do capitalismo como sistema econômico é o consumo — quanto mais se compra, melhor para a economia. O impacto das redes sociais nesse modo de pensar é enorme: toda semana surgem novas “trends”, estilos e produtos. Para estar “na moda”, é preciso acompanhar tudo isso, o que reforça a lógica de consumo constante. Porém, com o aumento dos discursos sobre sustentabilidade, muitas grandes empresas aram a adotar uma postura mais “eco-friendly” para atrair consumidores. É nesse contexto que surge o greenwashing — quando marcas tentam parecer sustentáveis, mas sem mudar de fato suas práticas. A poluição em larga escala, o desperdício de recursos e a exploração de mão de obra precária continuam acontecendo, e o consumo consciente acaba sendo transformado apenas em uma estratégia de marketing.
Um exemplo claro disso está na indústria da moda, uma das que mais alimentam o consumismo. A produção de roupas baratas, descartáveis, de baixa qualidade e que seguem tendências ageiras é conhecida como fast fashion. Esse modelo envolve a exploração de mão de obra barata, muitas vezes em condições análogas à escravidão, além do uso excessivo de recursos naturais, como água e energia. Também contribui para a poluição do solo, da água e do ar com o uso de agrotóxicos, corantes e outros produtos químicos. Diante desse cenário, algumas alternativas surgiram para tentar amenizar os danos. O movimento slow fashion, por exemplo, valoriza a qualidade, durabilidade e originalidade das roupas, incentivando o consumo local. O minimalismo propõe a redução do consumo e do acúmulo de roupas, com peças versáteis e atemporais. Já o upcycling transforma roupas usadas ou velhas em novas peças, prolongando sua vida útil.
Diante de tudo isso, fica claro que o consumo consciente, apesar de importante, enfrenta muitos limites dentro de um sistema que nos incentiva diariamente ao consumismo. Não dá para ignorar que pequenas mudanças individuais têm valor, mas elas, sozinhas, não resolvem um problema que é estrutural. Enquanto empresas e governos não assumirem responsabilidades maiores e continuarem priorizando o lucro, o impacto real será sempre limitado. Talvez o maior desafio não seja apenas mudar nossos hábitos, mas questionar o sistema que nos induz a consumir cada vez mais.
Artigo produzido na disciplina de Narrativa Jornalística no 1º semestre de 2025. Supervisão professora Glaíse Bohrer Palma.